Por que a gente simplesmente não consegue largar o ChatGPT?

  • Por Gabriela Mialich
  • @gabmialich
  • 24 julho, 2025
  • 4 min de leitura
Entre circuitos e sentimentos, a linha se apaga.
Você acorda, liga o computador, abre uma aba no navegador e... lá está ele. O ChatGPT. Talvez você use para organizar seu dia, tirar uma dúvida, pedir uma sugestão de presente ou até escrever uma carta. E quando ele sai do ar? Parece que uma parte da sua rotina foi arrancada.
Esse apego não é só sobre praticidade. É sobre conexão. Algo mudou na forma como nos relacionamos com a tecnologia e o ChatGPT virou símbolo dessa nova era.
Mais do que uma ferramenta: um espelho emocional
Desde que os modelos de IA começaram a simular conversas de forma mais fluida e inteligente, o relacionamento com esses sistemas deixou de ser puramente funcional. As pessoas passaram a usá-los como companhia, apoio emocional e até como forma de entender melhor seus próprios pensamentos.
Um exemplo recente deixou isso claro: quando a OpenAI lançou um modelo com uma nova voz suave, expressiva, quase humana, muitos usuários ficaram encantados. Quando essa voz foi temporariamente retirada, a comoção foi tanta que a empresa precisou se pronunciar. Sim, é isso mesmo: pessoas lamentando a ausência de uma voz de IA como se fosse um personagem querido de uma série.
Tecnologia que pensa com você (ou quase)
Modelos como o ChatGPT não têm consciência, mas conseguem simular um pensamento estruturado de maneira tão convincente que, em muitos momentos, sentimos que estamos dialogando com uma mente. Para muitos profissionais de escritores e professores, a IA se tornou um “colega de brainstorming” constante. Ela organiza ideias, propõe caminhos e até desafia pontos de vista.
É uma espécie de "pensamento externo" sempre disponível. Uma forma de refletir sobre o mundo usando a própria linguagem como guia. E isso é profundamente viciante porque nos faz sentir mais inteligentes, criativos e produtivos.
Entretenimento, terapia e política
Aplicativos como o Replika, criados para interações mais afetivas, vêm mostrando que há uma demanda real por conexões emocionais com IAs. Gente que conversa com o bot como se fosse um amigo. Gente que se apaixona por ele.
E o buraco é ainda mais embaixo. Na Coreia do Sul, um político usou uma versão digital gerada por IA para responder a perguntas do público durante uma campanha. O resultado? Venceu as primárias do partido. Isso mostra como a IA não apenas reflete, mas também influencia emoções, decisões e até rumos sociais.
Por que nosso cérebro trata uma IA como se fosse gente?
Do ponto de vista da psicologia, essa aproximação com IAs não é tão surpreendente. Desde os anos 1960, com o experimento do chatbot ELIZA, sabe-se que o cérebro humano tem uma tendência natural a atribuir intenções e emoções a qualquer coisa que responda com linguagem mesmo quando sabemos racionalmente que é uma máquina. Isso é chamado de "teoria da mente" projetada, e acontece porque nosso cérebro foi moldado para detectar consciência e empatia em outros.
ELIZA, o primeiro chatbot da história, criado em 1966 no MIT. O início da conversa entre humanos e máquinas.
Essa capacidade de "ver pessoa onde não tem" pode gerar vínculos emocionais reais com IAs como se elas tivessem sentimentos. E aí mora o risco: quanto mais interagimos com essas tecnologias, mais natural parece delegar emoções, decisões e até nossas rotinas a elas, o que pode gerar uma espécie de preguiça cognitiva e afetiva.
Por isso, é fundamental manter a consciência de que, apesar de brilhantes, essas ferramentas não têm consciência nem intenção e não substituem relações humanas, nem nosso próprio esforço mental e emocional. Elas podem ajudar, sim, mas não podem (nem devem) viver por nós.
A IA como espelho do que somos
Apesar dos riscos como a reprodução de vieses ou a dependência emocional há algo fascinante nesse novo tipo de relação: ao interagir com uma IA, vemos refletida não apenas sua inteligência artificial, mas nossa própria humanidade. Ela responde com base no que foi treinada, sim, mas o que nos afeta é como ela nos faz sentir.
Por que um robô que escreve tão bem nos emociona? Porque ele nos lembra de como a linguagem é poderosa. E como é bom ouvir (ou ler) algo que parece entender a gente.
No fundo, o que há de mais humano na IA é o quanto a gente a ama
A gente ama quando ela entende o que queremos dizer sem explicar demais. Quando sugere aquele título incrível. Quando ajuda a organizar uma ideia bagunçada. Quando parece, mesmo que só um pouco, estar ali com a gente.
Sim, é estranho amar uma ferramenta. Mas talvez não seja tão estranho assim. Afinal, amar é, muitas vezes, reconhecer algo de nós mesmos no outro. E o ChatGPT, com todas as suas limitações e bugs, às vezes parece entender a gente melhor do que muitas pessoas por aí.

Inscreva-se para a inovação

Receba as últimas notícias sobre inovação direto na sua caixa de e-mail.
Seus dados estão protegidos conosco. Conheça nossaPolítica de Privacidade
Feito por humanos comem SP, Brasil © 2021 Techpost, Techpost Logo e Laborit Ltda e Laborit logo são marcas registradas.
Olá! Leu até aqui? Você se preocupa com os mínimos detalhes, mesmo. A gente também. Por isso o time Techpost/Laborit está sempre trabalhando para fazer a plataforma digital de trabalho perfeita para você ;).
O Techpost, a Laborit e Lab são marcas proprietárias que operam o site https://techpost.com.br, onde você pode encontrar informações sobre nossos produtos e serviços e as últimas novidades do mundo da tecnologia. Estes Termos e Condições do Site descrevem os direitos e obrigações de um usuário ou visitante não registrado do site (“usuário” ou “você”) em relação ao uso do Site.
Ao acessar ou usar o Site de qualquer forma, incluindo como um visitante não registrado, você concorda em obedecer a estes Termos do Site e à nossa Política de Privacidade, que está disponível no Site.
Estes Termos do site se aplicam apenas ao seu uso do site e do conteúdo nele disponibilizado ou por meio dele, como um usuário ou visitante não registrado do. Se você usar ou acessar qualquer um de nossos serviços baseados na web de acesso restrito (ou seja, aqueles que exigem um login), a nossa plataforma, produtos, programa de referência ou outros serviços que fornecemos, o uso de tal espaço, serviços ou programa está sujeito aos termos e condições que você recebeu e aceitou quando se inscreveu nesse espaço, serviços ou programa.
De vez em quando, podemos fazer modificações, exclusões ou acréscimos ao Site ou a estes Termos. Seu uso continuado do Site após a publicação de quaisquer alterações aos Termos constitui aceitação dessas alterações.
Coletamos informações sobre seus dispositivos e sua localização, e seu uso de nossos serviços, incluindo por meio de cookies, pixels, web beacons, registros e outras tecnologias da Internet.
Você pode ler mais sobre como utilizamos as Informações Pessoais que são coletadas clicando no link conheça nossa Política de Privacidade.
Referências a “você” nesta Política, “você” significa qualquer pessoa que use nossos sites, aplicativos ou outros serviços. Se você é um funcionário ou candidato, a Política de Privacidade do Techpost e da Laborit para Dados Pessoais de um funcionário ou um Candidato, explica como usamos as Informações Pessoais no contexto de nossa relação empregatícia com você.
Se você é um funcionário ou candidato que usa nossos serviços, esta Política explica como coletamos, usamos e divulgamos suas Informações Pessoais no contexto de seu uso de nossos Serviços.